A dança do bravo xamã com a morte

Abri devagarzinho o olho, um só, para ver se valia a pena abrir o outro e vi que não estava mais na minha cama. Quer dizer, estava numa cama, mas não era a minha. Percebi logo que vi lençóis limpos...

Havia uma mulher sentada aos pés do leito. Vestido florido, cabelos castanho-claros cacheados, limpando as unhas distraidamente com uma pequena foice de ouro. Quando percebeu que eu estava lúcido, sorriu pra mim e disse:
"Olá, chegou a hora... Vim te apanhar... Espero que não esperneies tanto, como das outras vezes..."

Saquei logo e mantive a fleuma:

- Ora, não se preocupe... Nesta vida sou um guerreiro impecável, pronto pra tudo. Não é você que vai me abalar... Além disso, a mulher que eu amava me largou, não agüento mais o tédio que é o meu trabalho, e as coisas estão cada vez mais caras...
"Nada que eu não possa resolver. De vez - disse ela."

- Ok., disse eu. Li não sei onde que a última coisa que um guerreiro faz nesta vida é dançar para a morte. Posso dançar para você?

"É demorado?" - perguntou ela, com ar enfastiado.

- Um nadinha... Alguns passos e pronto...

"Ta. Dança."

- É, mas preciso de uma maracá xamânica, para acompanhar.

"Ok. Plasma uma."

- Não dá. Tem que ser uma maracá consagrada ao Grande Espírito. Leva uma semana para preparar. Faz o seguinte, deixa-me voltar lá no físico e pegar o duplo energético da minha...

"Ta. Mas não demora, que a minha lista de visitas agendadas é grande..."

- Pode deixar. É vapt-vupt e já volto...

* * *

Pois é. Isso foi anteontem. Se duvidar, ela ainda está lá sentada, me esperando, até agora...

- Bene -

Notas: Texto <415><27/03/2003>

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